Especialistas em educação se debruçam sobre as questões desafiadoras para alcançarmos uma sociedade verdadeiramente inclusiva
Da Constituição de 1988 para cá, a educação inclusiva no Brasil teve avanços consideráveis na legislação e nas políticas públicas. Apesar de amparada por lei, a inclusão nas escolas ainda precisa de ajustes desafiadores dentro da proposta pedagógica de integração de todos, que passa pelo respeito às diferenças, sistema de ensino competitivo, formação de professores e falta de informação. Para que a criança não somente entre na rede de ensino, mas permaneça com a garantia do aprendizado e da sociabilização.
Segundo a professora da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Ceará (UFC) Adriana Limaverde, o acesso do aluno ao ensino regular é inquestionável, tendo em vista os avanços da legislação. Entretanto, afirma a especialista, o modelo da escola atual dificulta a inclusão do estudante com deficiência. Um dos fatores destacados pela docente é o ambiente competitivo dentro das unidades escolares. A sugestão é de um espaço de colaboração.
“O sistema de avaliação classificatório adotado nas escolas é excludente. Classifica pelo melhor, a meritocracia. Esse modelo não atende a sociedade inclusiva. A própria UFC tem um programa de aprendizado mostrando a metodologia de cooperação. Aprender em regime de colaboração sem competição. O aluno preparado com o trabalho de colaboração pode enfrentar o desafio de competição sem exercitar esse individualismo na escola. É difícil inclusão nesse contexto”, define Adriana.
Para ela, a educação inclusiva também precisa superar questões no âmbito familiar e na formação dos professores, como a falta de informação. “As famílias não têm conhecimento do direito a matrícula. As condições de trabalho dos professores interferem. Os professores se sentem impotentes neste trabalho com a diversidade. Eles alegam que não tiveram formação para atender esses alunos, mas acreditamos que esse argumento não se sustenta”, afirma.
A professora Rita Vieira de Figueiredo, aposentada da Faced da UFC e PhD em psicopedagogia, acredita que o principal desafio da educação inclusiva seja manter os investimentos para dar sequência aos trabalhos inclusivos. “É preciso preservar o programa de professores. O maior desafio é transformar a escola e isso implica ter investimento para a educação, uma pauta de governo que priorize os investimentos sociais na cultura da educação”, avalia.
Entre os avanços no campo inclusivo, as professoras destacam a Política Nacional de Inclusão, de 2008, que contribuiu para melhorias diretas no ensino. “Houve a implantação do atendimento especializado ou suplementar à escolarização. Antes, as crianças chegavam à escola e não tinha espaço de complemento ao seu processo de aprendizado. Percebo que, em termos de políticas públicas, houve uma evolução na rede pública, com ofertas especializadas”, destaca Adriana. “Dá suporte ao aluno que precisa de serviços para que possa desenvolver autonomia para aprender na escola ou em ambientes sociais. É um serviço assegurado por lei”, reforça Rita.