O autismo do filho Lucas não é visto como uma barreira intransponível pela mãe Isabel Martins. Com a ajuda da escola, ela tenta encontrar caminhos que garantam a autossuficiência do adolescente
Pensar no futuro de Lucas Martins, de 14 anos, é sempre encarar a autonomia como um caminho. Nunca foi diferente. Desde que descobriu que o filho tinha autismo, a professora Isabel Martins Pinto, de 46 anos, buscou de todas as formas mostrar para si e para o mundo que Lucas pode ser o que ele quiser. Mas, para preparar o amanhã, a mãe fez questão de cuidar do presente.
Aos poucos, o adolescente vai encontrando a autossuficiência em pequenos exercícios cotidianos. Essa foi a maneira que Isabel encontrou para dizer ao filho que ele é capaz. As idas às bancas de revista acontecem sozinho, assim como pequenas compras e saídas para locais próximos a casa. É desse modo que Lucas encontra a vida e se expande. “Ele está melhorando, e a família tem que melhorar também, percebendo até onde vai, para não limitar”, conversa Isabel.
Para ela, a maior parte desse avanço só foi possível por conta da inclusão na escola. Lucas está no 7º ano do Ensino Fundamental em uma sala regular. Divide a rotina com os amigos que construiu desde que ele chegou ali há cinco anos. O respeito que surgiu entre eles fez o garoto evoluir.
“O Lucas fez outros amigos, conheceu outra realidade. A aceitação foi importante”, considera a mãe. “A gente encontrou, junto com a escola, formas para que ele participe das atividades, respeitando o jeito dele. Não é porque o Lucas é autista que não vai participar da feira de ciências, por exemplo”, completa.
Mas nem sempre foi assim. Até encontrar essa escola, Isabel recebeu muitos nãos e portas fechadas. Cinco escolas disseram que não podiam matricular o menino por conta do autismo. Em todas as vezes, Isabel se frustrou, mas não tirava da cabeça o desejo de que o filho estudasse em uma escola regular. “O Lucas tem dificuldades e isso deve ser trabalhado com outros que não tem a mesma deficiência. Isso o faz melhorar”, afirma a mãe.
Encontrar uma escola de portas abertas, para Isabel, é tão importante quanto as terapias e as atividades que o adolescente tem na rotina. A evolução se mostrou principalmente na interação entre as pessoas. O Lucas, que sempre respondia com frases curtas e não se interessava a criar laços mais fortes de amizade, transformou-se diante dos novos amigos e da rotina. Hoje, os resultados são postos em prática: “Eu vejo a escola como um fator muito importante. Depois da casa, é o local onde eles passam mais tempo. Por isso, é fundamental que a escola acolha e os respeite. Eu sei que dá certo trabalho, mas isso faz um bem enorme”.
E é esse cuidado no presente que vai repercutir, mais à frente, na vida de adolescente. Para Isabel, o caminho da autonomia deve ser alicerçado no respeito que se constrói ao longo dos caminhos de possibilidades. “No futuro, eu espero que ele tenha a vida dele. Eu quero que ele seja um adulto independente”, projeta.