Um ofício que é paixão


Jackson descobriu na docência uma profissão e uma alegria. Viu o número de alunos com deficiência crescer nas salas de aula e, por meio de recursos tecnológicos, consegue ganhar atenção e entusiasmo de todos

Isabel Costa / isabelcosta@opovo.com.br

Há 12 anos, quando Jackson Mendonça Soares começou a carreira como professor de Geografia, não havia a demanda de inclusão presente hoje. Os tempos eram outros, e boa parte dos alunos com deficiência ainda ficava restrita a instituições de cuidado específico. Mas as matrículas deles em escolas regulares cresceram vertiginosamente após a sanção de novas legislações. E o docente precisou encontrar novos caminhos e metodologias para as aulas.

Jackson aposta em um modelo de ensino interativo. Leciona para as turmas de terceiro ano da Escola de Ensino Fundamental e Médio Polivalente Modelo de Fortaleza, no bairro José Walter. Em todas as salas há, pelo menos, um aluno ou uma aluna com deficiência. Para facilitar a aprendizagem, ele começou a utilizar equipamentos de áudio e vídeo. Em todas as lições são mostrados recursos audiovisuais. Imagens, tabelas, gráficos, documentários e outros vídeos entraram na rotina dos estudantes como mecanismos naturais.

“Há cerca de um ano não dou aula só com pincel e lousa”, explica o docente. Mas, para a nova realidade ser possível, foi necessário fazer alguns investimentos: notebook, projetor, adaptadores, cabos, caixa de som. A escola dispõe de apenas um equipamento e não seria possível ministrar todas as aulas com os recursos. “São muitos professores para usar. Teria que ser dividido”, aponta. A aquisição vale a pena quando Jackson presencia a aprendizagem.

Preparar as aulas também exige mais tempo e trabalho. Hoje, ele tem um banco de dados com imagens, vídeos e materiais. Mas, até conseguir montar o acervo, cada novo dia de trabalho exigia preparação redobrada: “Gosto também de usar muitos exemplos e fotos. E escolho uma por uma”.

“Nós vivemos na sociedade do espetáculo, do som, da imagem. Trabalhar com as mídias é indispensável para prender a atenção deles. Uma coisa é eu mostrar um vulcão com fotos e vídeos. Outra é eu apenas falar sobre”. Jackson, que tem 36 anos, sempre amou geografia e sempre foi bom aluno. A docência veio como missão natural, um processo irreparável, uma paixão.

E o uso da tecnologia, explica o professor, é benéfico para todo o corpo de alunos – com ou sem deficiências. Assim, a sala de aula torna-se uma porta para outros mundos – onde florestas, oceanos e desertos estão a um clique. “Não é mais possível ministrar aulas, em nenhuma turma, sem o apoio desses recursos. É necessário para prender a atenção de todos os estudantes”, conta.

Existe outro fator que torna as aulas de Jackson ainda mais proveitosas e enche o docente de orgulho: o companheirismo dos estudantes. “Nas dezenas de turmas que eu tive, nunca vi exclusão. Eu presencio, sim, um respeito extremo que todos têm pelos colegas com deficiência. Não tem deboche, não tem piadinha, não tem preconceito”, exalta ele.

A inclusão realizada nas turmas regulares proporciona que outros recursos metodológicos possam ser empregados. “Nas salas de aula, os alunos incluem. Nunca excluem. Chamam os colegas com deficiência para as equipes. Gosto muito de trabalhar com seminários, com trabalhos em grupo. E é bom saber que eles nunca são excluídos. Mas, sim, incluídos pela turma, que aceita que eles têm peculiaridades no aprendizado”, comemora Jackson, orgulhoso.

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