Os múltiplos afetos da sala de aula


Além do suporte dos professores, crianças com deficiência contam com os outros alunos como parceiros no aprendizado. Cuidado, companheirismo e afeto são uma realidade inegável nas escolas de ensino fundamental e médio

Isabel Costa / isabelcosta@opovo.com.br

Entre todos os pais, especialistas e profissionais da educação consultados pelo O POVO, houve um consenso: os alunos de escolas regulares acolhem e respeitam os alunos com deficiência. Sem preconceito e sem medo. Eles apenas convivem e fazem de tudo para que os colegas se sintam confortáveis.

Brenda Castro Alves, 35 anos, produtora de eventos, colocou a filha na escola aos dois anos. Introduzir a educação cedo foi um conselho da Rede-Sarah de hospitais. E deu certo. “A minha filha, Bruninha, foi muito bem recebida e teve afinidade com a escola desde pequena. Não chorou. Não reclamou”, diz, satisfeita.

Bruna apresenta um atraso no desenvolvimento motor e ainda não consegue andar. Na escola, conta a mãe, as outras crianças correm para apanhar a mochila e o andador da coleguinha, são cuidadosas e atenciosas, ajudam com a desenvoltura de quem não foi poluído por preconceitos e estereótipos. “As professoras foram fundamentais, pois sempre trataram a Bruna não como uma criança diferente. Uma criança igual, apenas tem a limitação dela”, conta.

Todos ganham quando uma criança ou um adolescente com deficiência é verdadeiramente incluído no ensino regular. Não é um benefício unilateral, mas uma troca de saberes e experiências. O indivíduo vai ter a oportunidade de se socializar e de aprender. Os outros estudantes vão entender, desde cedo, que o mundo é múltiplo e que as diferenças existem para serem respeitadas.

Assim aconteceu com Lara Pires, 17 anos, estudante da Escola de Ensino Fundamental e Médio Polivalente Modelo de Fortaleza, no bairro José Walter. Ela entrou no ensino público no primeiro ano e, até então, nunca havia visto ou ouvido falar de uma pessoa com deficiência em sala de aula. No novo colégio, passou a conviver com Carla Carolina Gomes e Jéssica Monteiro.

“As meninas têm dificuldades com alguns conteúdos e nós tentamos ajudar. Não por obrigação, mas por carinho com elas mesmo. As duas têm diferenças e acredito que se sentem bem aqui, na turma, pois fazem parte do grupo”, explica Lara. Em aula, Carol e Jéssica são as mais atentas. Prestam atenção a cada movimento dos professores e identificam quando a turma está bagunçando. Nessas horas pedem silêncio e colocam ordem.

A tia e cuidadora de Jéssica, Ana Monteiro, reconhece a escola como fundamental para o desenvolvimento. Foi no ambiente que a adolescente conseguiu se socializar, desenvolver competências e ser parte de um grupo. Com o fim do ensino médio se aproximando, ela já faz planos. Procurou a Rede Cuca para consultar as possibilidades. Ficar sem estudar não é possível, ela diz, pois os inúmeros progressos alcançados com o ambiente escolar poderiam ser perdidos. Após o terceiro ano, planeja, Jéssica deve começar um curso em sua maior paixão: o teatro. “Ela faz parte do grupo da escola e ama”.

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