Os desafios do sistema


Para além do âmbito educacional, é necessário ter um sistema que apoie as pessoas com deficiência e suas famílias. Difusão da informação, aumento no número de profissionais e garantia de direitos a partir de legislação específica são mecanismos para construir uma escola inclusiva

Isabel Costa / isabelcosta@opovo.com.br

Boa parte dos alunos que chegam ao Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Estado do Ceará (Creaece) é encaminhada por professores que acreditam no potencial de melhoria e na necessidade de acompanhamentos especializados. Somado a isso, as famílias têm, cada vez mais, acesso a informação por meio da imprensa, da internet e dos profissionais de saúde – que realizam indicações. E a Lei Brasileira da Inclusão (LBI) garantiu, em um único instrumento, direitos que já estavam postos em outras ferramentas legais. A avaliação é feita pela assistente social Raquel Souza Caldas, que desenvolve trabalho no Creaece.

A educação tem se tornado mais inclusiva por conta de uma “rede” formada por profissionais e famílias. “Muito envolvida em fazer o aluno com deficiência ter os atendimentos necessários”, explica a assistente social. São os professores que elaboram as melhores aulas, mesmo quando não há todos os recursos físicos disponíveis, e os pais e mães que travam diariamente uma luta contra o sistema. Mas fazer a criança ter os atendimentos necessários ultrapassa as barreiras da escola.

“Observamos que a escola ainda não está preparada para receber determinadas demandas. O professor, às vezes, não tem a formação necessária para lidar. Às vezes, não sabe como conduzir a aula. O Creaece contribui nessa parte, pois oferece formações de vários âmbitos para os profissionais. A educação é indispensável na vida de qualquer pessoa, não seria diferente na vida das pessoas com deficiência”, elabora Raquel.

Ana Paula Fernandes, pedagoga da sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Escola de Ensino Fundamental e Médio Polivalente Modelo de Fortaleza, conta da dificuldade de algumas mães para conseguir fazer o filho entrar em sala de aula. “Elas acordam cedo. Muitas crianças precisam de ajuda para a higiene, para alimentação. Depois, vão pegar ônibus e não é adequado. O motorista não para, pois vai ter trabalho na locomoção. É uma batalha diária”, comenta.

Os desafios, afirma Ana, são convertidos em resultados. “Na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, a escola ficou toda mobilizada. A Seduc (Secretaria da Educação do Estado) tem uma indicação forte de incentivar os alunos a comparecer. E uma aluna com deficiência se interessou. Ela perguntou se poderia, nós fizemos a inscrição e ela foi fazer a prova. É gratificante”, aponta Ana Paula.

“Houve um grande upgrade da legislação. Hoje, temos a Lei Brasileira de Inclusão, e as discussões acontecem na Assembleia Legislativa. A inclusão começou a receber luz, receber atenção, ter visibilidade… E o passe livre para circulação nos ônibus também foi um avanço. As mães vão tomando conhecimento e têm a internet como uma ferramenta preciosa. A difusão de informações fez um efeito grandioso para a questão da pessoa com deficiência, pois elas se apropriam dos direitos e vão em busca”, aponta Raquel Souza Caldas, do Creaece.

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