A inclusão é de casa


A mãe Lena Patrícia viu a evolução da filha Maria Isadora, com síndrome de Down, depois da chegada das duas irmãs. Antes mesmo de chegar à escola, elas aprenderam a conviver com as diferenças

Rômulo Costa / romulocosta@opovo.com.br

Estar em família é talvez uma das primeiras chances de aprender sobre inclusão. É em casa que se experimenta conviver com o outro, equilibrar diferenças e entender que nós somos muitos. O cotidiano fez Lena Patrícia, 38 anos, perceber que a vida é tão variada quanto imprevisível. Em casa, na convivência com as filhas, ela compreendeu sobre si e sobre a relação que estabelece com o mundo. O curioso é que a analista de recursos humanos chegou a ter dúvida se expandir a família seria realmente uma boa ideia.

Das três filhas de Lena, quem nasceu primeiro foi Maria Isadora Oliveira, 12. A menina tem cabelos lisos, adora brincar na piscina e estudar português e matemática. Outra característica da Isadora é a síndrome de Down. Assim mesmo. A condição é apenas um aspecto entre o emaranhado de atributos que a menina carrega em si.

Acontece que essa característica fez com que a mãe e o pai, João Coelho, 45, dedicassem boa parte da rotina para os cuidados com a Isadora – desde idas a consultórios até a frequência em terapeutas. “Os médicos começaram a dizer que a gente podia ter outro filho. Mas eu não queria tirar o foco dela. Eu dizia que não fazia falta”, relembra. Os especialistas explicavam que um irmão poderia estimular o desenvolvimento da menina. Ajudaria também na inclusão e no progresso do tratamento.

De surpresa, a vida tratou de entregar duas meninas para dividir o dia a dia e as alegrias de Isadora. A primeira irmã foi Maria Fernanda, hoje com 7 anos, e depois chegou a Maria Gabriela, 3. “As meninas foram a melhor coisa que poderia acontecer para nós. A Isadora evoluiu demais com elas. A forma de falar, o comportamento, tudo melhorou”, conta.

O sentimento de igualdade também cresceu. Com sete anos de diferença para a irmã mais velha, Isadora naturalmente quis ajudar a mãe nos cuidados com a Fernanda. Ganhou pequenas responsabilidades, conheceu novas possibilidades e caminhos que nunca tinha percorrido até ali. “Foi um salto de desenvolvimento”, comemora a mãe.

E mais do que progredir, Isadora e as irmãs passaram a compreender que as diferenças não são um impeditivo para a convivência: “A Fernanda só veio saber que a irmã tinha síndrome de Down depois dos sete anos de idade, quando ela começou a perceber semelhanças entre a Isadora e outras crianças com Down”.

A experiência de casa foi replicada em outros ambientes. Na escola, Fernanda convive com colegas com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento. A relação entre eles nunca foi uma dificuldade. “Eles crescem juntos. Cada um aprende uma coisa nessa convivência”, demarca a mãe, enquanto as meninas continuam muito preocupadas com as múltiplas formas de ser criança. “O que eu mais gosto é de brincar de pega-pega com a Isadora”, divide Fernanda, ao lado do sorriso cúmplice da irmã.

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