Onde acontece a música independente de Fortaleza?
Locais e eventos com música ao vivo são abundantes na cidade, mas a maioria não contempla repertório nem artistas locais. Afinal, onde é possível assistir os shows das bandas e artistas em Fortaleza?
Uma loja de discos, a sede de um grupo de teatro, um restaurante e uma livraria convertida em espaço cultural: estes são alguns dos palcos vitais para a cena musical independente de Fortaleza hoje. Diante da escassez de casas que contemplem o público e a produção artística locais, estes espaços ampliaram suas esferas de atuação apostando no diferencial dos projetos autorais e mantendo uma rede indispensável para amplificar a música da cidade.
Ponte entre som e cena
“Um território livre para a criação e a difusão — um espaço de experimentação e encontro”, é como o ator e produtor cultural Jota Júnior Santos define a Casa Absurda, sede do grupo de teatro Pavilhão da Magnólia, que completa 20 anos de atuação. Integrante do grupo, ele conta que o teatro foi o ponto de partida do espaço, mas logo a música, a dança e as artes visuais passaram a ocupar o mesmo teto.
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Com a música, essa relação surgiu naturalmente. “Muitos artistas da cidade encontraram na Casa um lugar acolhedor, íntimo e aberto à experimentação. E o público sempre esteve presente, acompanhando e participando ativamente. Nossa aproximação com a música vem do próprio trabalho do grupo. Quase todos os nossos espetáculos têm música ao vivo e, a cada criação, artistas da cena musical colaboram nas trilhas sonoras originais — como Ayrton Pessoa, Jocasta, Orlângelo Leal, Sylvain Druot e Mona Gadelha — junto a Eliel Carvalho, nosso ator e músico, construindo essa ponte entre som e cena”, detalha.
Resistência e invenção
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Desde sua abertura em 2018, a Casa Absurda mantém parceria com o selo Mercúrio Música, que faz propostas de lançamentos de discos, shows e discotecagens e que, desde 2020, também possui seu espaço cultural independente. Localizada no Benfica, a Casa Mercúrio funciona atualmente no prédio que antes abrigava a Livraria Lamarca.
Nádia Sousa, gestora do espaço, avalia que “é muito fácil achar espaço para festas que ‘bombam’, mas não é fácil encontrar espaços dispostos a receber pesquisas sonoras e autorais, por exemplo”. Nesse contexto, Nádia vê a atuação da Mercúrio pautada por ações de resistência e de invenção: “resistir ao apagamento das pequenas iniciativas e inventar modos possíveis de sustentar a cultura fora das lógicas de mercado e dos circuitos hegemônicos”, afirma.
Para ela, o cenário atual exige novas estratégias de sustentabilidade e de mediação cultural. “Apostamos na força das redes colaborativas, buscando parcerias, apoios e financiamentos de diversas naturezas para podermos continuar investindo naquilo em que acreditamos. E temos um público cativo, que sempre chega junto e é nosso maior bem. Esse trabalho de formação de plateia é fundamental”, explica.
Na programação da Casa Mercúrio, shows e festivais de música como o “Barulhinho Delas” se articulam com cursos de formação técnica, residências e encontros. “A ideia é gerar um ecossistema cultural que valorize sobretudo os processos, as colaborações e aprendizados compartilhados”, explica.
Vibe Tiny Desk
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Em meio a esse ecossistema, uma loja de discos de vinil no Meireles também se destaca como ponto de encontro e efervescência musical. A Hifive Discos e Bar surgiu em 2021 projetada inicialmente como uma loja de discos e cervejas artesanais. Com espaço de circulação generoso, poucas mesas e uma área de estar, a casa começou recebendo DJs às sextas e sábados à noite.
Marília Eskinazi, proprietária da loja, recorda o primeiro show realizado ali, com a banda e a plateia próximos uns dos outros e em meio às prateleiras de vinis. “A primeira banda a se apresentar foi a Indigo Mood, do Leonardo Mendes. Eles buscavam essa vibe ‘Tiny Desk’ para o lançamento de uma nova música e foi aí que percebemos o quanto o nosso espaço tem esse potencial”, relembra.
Desde então, a frequência de shows na Hifive cresceu, assim como a demanda por parte dos artistas e produtores. “Nós já incentivamos que as apresentações sejam de bandas/músicos autorais, pois é o que realmente faz parte dos valores e da missão da Hifive. Acreditamos na música, nos encontros, na troca, no afeto, no aspecto cultural que movimenta a cidade, na construção de relacionamentos”.
O local se tornou referência até mesmo para artistas de outras cidades que vêm tocar em Fortaleza, como foram os casos dos shows de Kiko Dinucci e de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, por exemplo, que chegaram a fazer sessões duplas de suas apresentações, devido à alta demanda por ingressos.
“Eu percebo que a nossa cidade possui poucos estabelecimentos dispostos a acolher a cena autoral, e existe público pra isso sim. Quando essas apresentações acontecem de uma forma tão intimista como no nosso espaço, a proximidade com o artista deixa a troca muito mais rica”, defende Marília.
Desde 1994
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Em 2012, o restaurante Cantinho do Frango, aberto desde 1994, começou a receber os primeiros shows. A proprietária Amanda Fonseca conta que a iniciativa visava fazer as pessoas ouvirem mais os artistas locais. “Palcos que valorizem a cena musical são muito importantes, pois temos observado o crescente número de artistas locais muito talentosos e é necessário que o número de palcos acompanhe esse crescimento”, explica.
Da programação musical consistente às referências na decoração do ambiente, tudo no Cantinho exalta o cancioneiro de diversas gerações da música cearense, inclusive as mais recentes. “Temos uma demanda grande de artistas procurando nosso espaço e tentamos sempre incluí-los na programação. Essas experiências têm sido muito gratificantes, pois sentimos que estamos fazendo algo pela cultura cearense”, celebra Amanda.
Desafios em rede
Jota Júnior Santos, da Casa Absurda, reforça que “a cena musical independente precisa de lugares assim, que não imponham formatos ou fronteiras”, mas também pondera que é desafiador manter espaços como a Casa. Por ser totalmente independente, são as apresentações do grupo, combinadas a editais públicos, que pagam as contas.
“Em 2023, fomos contemplados pelo Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas da Funarte, o que trouxe um respiro e permitiu uma intensa programação em 2024 e no primeiro semestre de 2025. Também contamos com o apoio da Secult-CE e da Secultfor, por meio da Lei Paulo Gustavo, o que tem nos possibilitado manter o espaço, fazer melhorias e realizar programações diversas”.
Nádia adota uma postura semelhante na Casa Mercúrio. “Buscamos financiamento sempre, através de editais públicos e privados. Mas nenhum dos financiamentos paga contas ou compra de equipamentos. Nesse sentido, os custos da Casa são mantidos por mim, que tiro dos meus proventos”, conta a gestora do espaço, que também foi contemplado pela Funarte, no Programa Funarte de Espaços Independentes. “É uma forma de fortalecer a autonomia da produção local e consolidar a Mercúrio como lugar de formação continuada e difusão cultural em rede”.
É nessa rede que Jota enxerga potencial para amplificar a arte pela cidade. “Acreditamos que o caminho é seguir fortalecendo as redes. Mesmo em tempos difíceis, mantemos a convicção de que é no coletivo que a gente consegue resistir. Por isso, a Casa busca aproximar público e artistas de um modo muito próximo e franco quanto às nossas limitações, promovendo assim trocas diretas e experiências sensíveis”.
Dessa forma, a música independente de Fortaleza insiste em se articular e se reinventar, transformando a própria cidade em palco para alcançar seu público.
Sobre o projeto
O “Cultura em Movimento: Ceará que cria, celebra e contagia” é um projeto do Grupo de Comunicação O POVO com apoio do Governo do Ceará. A proposta é fortalecer o ecossistema cultural e estimular sentimento de pertença do povo cearense. Nesta edição, o projeto passeia, de forma multifacetada, por produções culturais em quatro linguagens artísticas, a saber: audiovisual, arte popular, artes plásticas e música.
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