Nigéria Filmes: 14 anos de impacto e  transformação no audiovisual cearense

17:11 | 27 de Aug de 2025
Nigéria Filmes: 14 anos de impacto e  transformação no audiovisual cearense

Criada por um trio de amigos, a produtora levanta questionamentos acerca da sociedade, política, cultura e direitos humanos. Um dos fundadores, Roger Pires comenta sobre o cenário atual e os desafios do audiovisual cearense

De um encontro de amigos em Fortaleza nasceu a Nigéria Filmes que hoje já atravessa mais de uma década de existência. A produtora transformou inquietações pessoais em cinema, levando para as telas questionamentos sobre política, cultura e direitos humanos, firmando-se como uma das vozes mais originais do audiovisual cearense.

Criada em 2011 pelos comunicadores Bruno Xavier, Roger Pires e Yargo Gurjão, a Nigéria Filmes nasceu do desejo de produzir conteúdos independentes que ultrapassassem os limites do jornalismo tradicional. A inspiração veio da indústria popular de Nollywood, na Nigéria, onde o cinema é feito de forma democrática, acessível e com grande alcance popular.

“A Nigéria Filmes surge para ser realmente um lugar, uma organização, uma empresa, uma marca que vem produzir filmes de impacto e que causem debate e transformação social”, conta Roger Pires, que atua no desenvolvimento e na produção dos projetos da Nigéria Filmes.

Filmes de impacto

Desde sua fundação, a produtora cearense se consolidou com obras voltadas para o que os fundadores chamam de “filmes de impacto”. A proposta é provocar reflexões e debates sociais, mesmo quando os projetos transitam pelo humor, pela ficção ou pelo entretenimento.

“Todas as produções que fizemos até agora possuem essa pegada reflexiva. Até as que, a priori, são de humor e entretenimento, trazem uma mensagem e um propósito de transformação social”, afirma Roger.

De documentários, séries, webséries, curtas e longa-metragens, o Nigéria Filmes tem em seu catálogo as criações: “Sucata de Plástico” (2012), “Com Vandalismo” (2013), “Areia Loteada” (2014), “Defensorxs” (2015), “Envolvidos” (2015), “Cartas Urbanas” (2016), “Onze” (2016), “ConViver” (2017), “Passarinhas” (2019), “La Casa Duz Vetin” (2019), “Swingueira” (2020) e “Espíritos da Sabiaguaba” (2020).

“Swingueira” retrata a juventude nordestina a partir dos campeonatos de dança. A obra, já exibida em festivais e no Canal Brasil, agora pode ser vista também na plataforma O POVO+. Além de celebrar a dança, o filme se torna um retrato da vida na periferia, trazendo à tona questões sociais e culturais que se entrelaçam no cotidiano da juventude.

Outro marco da produtora é “Defensorxs”, documentário que percorre as cinco regiões do país para traçar um panorama sobre os direitos humanos no Brasil. Já o longa “Com Vandalismo”, lançado em 2013, alcançou mais de 300 mil visualizações no YouTube. A obra registra de forma abrangente os acontecimentos das jornadas de junho daquele ano, incluindo entrevistas e imagens de movimentos como os Black Blocs.

Nas séries, um dos trabalhos mais reconhecidos é “Passarinhas”, exibido no Canal Futura. Em 13 episódios, a produção conta histórias de mulheres cearenses ligadas à agroecologia, aos movimentos sociais e à preservação da natureza. A narrativa amplia a representatividade ao reunir perfis diversos, de indígenas a idosas, passando por jovens e lideranças comunitárias.

O cenário atual do audiovisual cearense

O setor audiovisual do Ceará vive uma fase considerada histórica. Produtores, artistas e agentes culturais apontam que o estado vive o amadurecimento de sua produção, alcançando resultados expressivos.

“Estamos vivendo o melhor momento do audiovisual cearense. Temos o amadurecimento da produção e dos agentes culturais, obras de relevante resultados, inclusive internacionais, premiações e reconhecimento das questões mais simbólicas e artísticas que envolvem uma obra, mas também comerciais, com várias obras que estão gerando bilheteria, licenciamento em TVs e renda em emprego para as produtoras e para as pessoas envolvidas”, avalia Roger.

Para o fundador da Nigéria Filmes, esse cenário é resultado de políticas públicas que estimularam a formação de novos profissionais, o surgimento de equipamentos culturais e a difusão de cursos de graduação e oficinas voltadas ao cinema. Ele aponta que o crescimento tem contado com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado, que tem se mostrado atenta e comprometida com o desenvolvimento do audiovisual. 

O ano passado marcou um momento de brilho inédito: sete filmes cearenses chegaram às salas de cinema de todo o país, enquanto produções locais conquistam espaço em grandes plataformas internacionais de filmes e streaming. 

Os desafios para o futuro do audiovisual cearense

Apesar do otimismo, Roger destaca que o maior desafio é transformar esse bom momento em algo permanente. “É preciso transformar todo esse sucesso do atual momento em algo permanente ou pelo menos que tenha um plano sustentável para médio e longo prazo. E isso se traduz na criação de uma empresa pública de audiovisual, que vai fazer do audiovisual algo sustentável economicamente. Precisamos nos apropriar da linguagem econômica e de mercado para o audiovisual. Para além de ser um símbolo artístico, ele também se torna uma indústria”, defende.

Outro ponto de atenção é a necessidade de continuidade das políticas públicas e a criação de condições para que a inventividade cearense se traduza em produções cada vez mais competitivas. “O Ceará tem pluralidade de cenários — do sertão ao litoral, da serra à capital — e uma inventividade nata que se comunica pelo humor, pela música, pela dança. É esse repertório que precisamos potencializar”, conclui Roger.

Conheça as produções da Nigéria Filmes

Site: nigeriafilmes.com

Instagram: @nigeriafilmes