Conheça as políticas públicas que fomentam filmes e séries no Ceará
Em entrevista ao O POVO, secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela, destaca programas como o Ceará Filmes, que busca qualificar e promover o audiovisual no Estado
Do restauro de obras do cinema local à estreia de curtas e longas no Festival de Cannes, o audiovisual cearense colhe frutos de políticas públicas que cada vez chegam mais longe. É o que indica a secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela.
No Ceará, as políticas para o audiovisual seguem as diretrizes do Ceará Filmes, programa estadual que, somado a iniciativas federais como a Lei Paulo Gustavo e a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, impulsiona a qualificação e promoção do setor no Estado.
Em entrevista ao O POVO concedida por e-mail, Luísa Cela ressaltou investimentos, espaços culturais, equipamentos formativos e avanços no restauro e difusão do audiovisual cearense na cena nacional e internacional. Confira na íntegra:
OP – Hoje, quais são as principais políticas públicas, equipamentos públicos e oportunidades de capacitação que incentivam produções e artistas no audiovisual cearense?
A Secult Ceará segue diretrizes e objetivos do Programa Estadual de Desenvolvimento do Cinema e Audiovisual (Programa Ceará Filmes), que foi instituída pela Lei Estadual 17857/2021, que define políticas públicas para o fortalecimento do audiovisual cearense. O Programa está dividido em sete eixos:
- I – criação e produção;
- II – distribuição e comercialização;
- III – exibição;
- IV – infraestrutura de serviços;
- V – formação;
- VI – preservação e memória;
- VII – relações institucionais.
Somente entre os anos de 2014 a 2024, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura, investiu o montante de R$ 129.727.381,77 (fomento direto) em políticas estruturantes do setor audiovisual. Nesse período, foram publicados 10 editais que beneficiaram 574 agentes culturais, contemplando 727 projetos distribuídos por 69 municípios das 14 macrorregiões.
Em 2025, estamos com 2 editais de audiovisual em execução:
- 15º Edital Ceará de Cinema e Audiovisual
- Linhas de apoio: Produção e finalização de longas e curtas; Finalização de longas e séries; Roteiro; Apoio a plataformas de streaming para licenciamento de curtas, longas e séries; manutenção e criação de cineclubes.
- Valor: R$ 15.900.000
- Chamamento Público para Realização de Programa Hub de Jogos do Ceará
- Linhas de apoio: Laboratório de Produção de Jogos, Bolsas de Criação, Aceleradora de Negócios Criativos em Jogos, Intercâmbio Cultural, Ação de Memória e Patrimônio, Plataforma Hub de Jogos do Ceará
- Valor: R$ 1.500.000
Na Rede Pública de Espaços Culturais do Estado, destacam-se dois equipamentos com salas públicas de cinema: o Cineteatro São Luiz e o Cinema do Dragão do Mar (no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura).
No campo da formação, a Secult Ceará apoia cursos de profissionalização voltados para toda a cadeia produtiva do audiovisual. Entre os equipamentos da Secult Ceará que oferecem cursos básicos e técnicos, estão a Escola Porto Iracema das Artes, o Centro Cultural Bom Jardim e o Hub Cultural Porto Dragão.
Especialistas em preservação, conservação e digitalização de acervos do MIS CE (Museu da Imagem e do Som) têm sido convidados para apresentar estudos de caso de restauro e digitalização de obras cinematográficas em eventos sobre o tema.
Um dos filmes 35mm digitalizados em 4k e que recebeu correção de cor pela equipe de Laboratório de Preservação, Conservação e Digitalização do MIS CE foi “Chico da Silva” (1976), de Pedro Jorge de Castro.
Especialistas do MIS-CE participaram, por exemplo, da 19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, realizada em junho de 2024, e do Encontros IC Play, em setembro de 2024, evento realizado pelo Itaú Cultural, em São Paulo, entre outras iniciativas para apresentar o trabalho realizado no MIS CE.
A equipe de conservação do MIS foi responsável pela digitalização e recuperação do longa-metragem “Lua Cambará”, de Rosemberg Cariry, que foi exibido recentemente em 5 de agosto no Cineteatro São Luiz, em homenagem aos 50 anos do realizador. O evento também contou com o lançamento da plataforma estadual de streaming Siará+, importante instrumento de difusão do audiovisual cearense, que inclui em seu catálogo no mínimo 70% de obras audiovisuais cearenses.
Além de investimentos na área de produção, o Governo do Ceará investiu importantes recursos em programas estratégicos para a indústria audiovisual, como o “Laboratório de Desenvolvimento de Roteiros da Porto Iracema das Artes – o CENA-15”, por onde já passaram 120 jovens roteiristas, num processo imersivo de formação.
Criado em 2013, o programa está em sua 12ª edição, com uma cartela de 65 projetos de roteiros de longas-metragens e séries de televisão. Desse total, 35% dos projetos foram finalizados, ou estão em pós-produção, ou complementação de captação. Mais de R$ 18 milhões foram captados para a produção.
A Secult Ceará participa de três ações de intercâmbio e internacionalização do setor audiovisual. São os projetos “Directors’ Factory Ceará Brasil”, “Porto MIS CinéFabrique” e “Produire au Sud”. Estas iniciativas são decorrentes dos encontros e trabalhos que ocorreram no âmbito do Festival de Cannes de 2024, ampliando o processo de internacionalização do audiovisual cearense.
Desde 2024, o projeto Directors’ Factory Ceará Brasil seleciona cineastas emergentes com projetos de primeiro ou segundo longa-metragem para coescrever e codirigir, em duplas, um total de quatro curtas-metragens que são exibidos na abertura da Quinzena dos Realizadores durante o Festival de Cannes. Após a chamada no início de julho de 2024, direcionada a cineastas do Norte e Nordeste do Brasil, foram recebidas mais de 60 inscrições.
A Quinzena dos Realizadores e a equipe da Directors’ Factory, juntamente com o júri local, selecionaram quatro realizadores brasileiros com projetos de longa-metragem em desenvolvimento (dois do Ceará, um de Alagoas e outro do Amazonas), que foram pareados com quatro diretores de outros países. Em maio de 2025, os diretores apresentaram os curtas na Quinzena e tiveram a oportunidade de participar do Marché du Film, apresentando seus projetos de longa-metragem a um painel de profissionais como produtores, agentes de vendas, laboratórios e festivais, com vistas à viabilização de seus projetos. O projeto é realizado pela Secretaria da Cultura do Ceará, em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte, do Instituto Dragão do Mar e o Festival de Cannes.
O projeto Porto MIS CinéFabrique promove a realização de dois curtas-metragens de ficção, a partir da parceria entre Museu da Imagem e Som (MIS), Escola Porto Iracema das Artes e o programa internacional “Cine Nomad School”, da CinéFabrique, escola de cinema localizada em Lyon, na França. Estudantes do segundo ano de graduação na CinéFabrique e alunos de cinema e audiovisual do Ceará produzem dois curtas-metragens. O objetivo aqui é ensinar e criar coletivamente, compartilhando visões de mundo e práticas criativas diferentes, com foco na experimentação técnica e no intercâmbio cultural.
O projeto “Produire au Sud” é um programa de formação profissional dedicado a produtores e realizadores dos três continentes (África, América Latina, Ásia). O processo é voltado aos desafios e demandas da coprodução internacional. O projeto é uma parceria da Secult Ceará, por meio da Escola Porto Iracema das Artes, com o Festival des 3 Continents, de Nantes, na França.
Além dos três projetos supracitados, a Secult Ceará patrocinou o longa-metragem Motel Destino, de Karim Ainouz, que foi selecionado para a competitiva do Festival de Cannes em 2024.
OP – De que maneira o poder público avalia o impacto desse setor para a economia do Estado?
Além do papel cultural, social e simbólico, o setor audiovisual também tem influência significativa sobre a economia. O audiovisual gera postos de trabalho, movimenta cadeias produtivas e estimula setores complementares, como tecnologia, turismo, serviços técnicos e educação. A expansão do setor tende a gerar impactos além de seus limites diretos, irradiando efeitos sobre diferentes esferas da atividade econômica regional e nacional. A Secult Ceará contratou a FIPE para desenvolver uma pesquisa de impacto socioeconômico do setor audiovisual cearense, com o objetivo de termos dados concretos sobre esse cenário.
OP – Pensando no histórico do audiovisual cearense, como você descreveria essa trajetória? O que mudou ao longo dos anos? Teve algum ponto de virada ou marco importante?
Em termos de investimento público em audiovisual, os recursos da Lei Paulo Gustavo foram importantes não apenas pelo volume grande de investimentos na área quanto para o fomento de diferentes eixos da cadeia produtiva do audiovisual.
Outro momento significativo é o processo de implantação da empresa pública do audiovisual cearense. Desde o ano passado, a Secult Ceará vem sendo acompanhada pela consultoria de Alfredo Manevy, responsável pela criação da SPCine.
OP – Como o governo planeja o futuro do audiovisual cearense? Como tornar o setor mais acessível e descentralizado?
Com a implantação da empresa pública do audiovisual cearense, será possível implementar políticas públicas para o setor, com foco no desenvolvimento econômico e na distribuição de conteúdos, na captação de recursos federais e internacionais, na promoção de coproduções, film comission e atração de investimentos para o Estado.
A empresa poderá ser importante agente articulador do setor com mercados nacionais e internacionais, além de promover a inclusão social e o acesso ao audiovisual por meio de iniciativas como o fortalecimento das salas públicas de cinema, o apoio a festivais e mostras, a plataforma de streaming Siará+.
Além disso, será uma ferramenta estratégica para promover a interiorização do audiovisual, fomentando a produção e o consumo de conteúdos nas regiões do interior do Ceará.
Acesse obras do audiovisual cearense na plataforma Siará+: https://www.siaramais.cultura.ce.gov.br/
O acesso é gratuito, mediante cadastro.