Escrevendo a música cearense
Ao longo de décadas, a música cearense vem sendo documentada não apenas em registros fonográficos, mas também nas páginas dos livros
Para além da letra, da melodia ou da harmonia, música também tem história: como foram feitas ou gravadas, o que as inspirou, como os envolvidos se conheceram, o momento histórico em que tudo isso aconteceu, etc.
Muito do que se entende hoje como música “brasileira”, em contraponto ao que é tido como música “local” ou “regional”, se deve justamente às histórias em torno da criação e da repercussão dessas obras, reforçadas tanto pelos meios de comunicação quanto por sua presença em livros, pesquisas e artigos.
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Pedro Rogério, professor do curso de Música da Universidade Federal do Ceará (UFC), ministra a disciplina “História da Música Cearense”. Ele explica que “refletir sobre a música cearense, suas histórias, relações sociais e valores estéticos traz uma alternativa que coloca em questão a construção de um repertório formado a partir da seleção imposta pelos meios de comunicação de massa”.
Diante da posição historicamente periférica da música feita no Estado frente ao mercado nacional, mesmo com uma rica e extensa produção cearense, Pedro analisa de forma crítica este panorama.
Para tal, parte dos saberes locais e observa o contexto brasileiro de colonialidade. “O estudo da música cearense fortalece a identidade dos estudantes e desperta a consciência de que eles próprios são construtores dessa história”, conta.
Pessoal do Ceará
Em seu livro “Pessoal do Ceará: Habitus e Campo Musical na década de 1970”, Pedro Rogério analisa as trajetórias de artistas como Augusto Pontes, Belchior, Cláudio Pereira, Dedé Evangelista, Ednardo, Fagner, Fausto Nilo, Francis Vale, Ricardo Bezerra, Rodger Rogério, Tânia Cabral e Téti.
Este grupo de músicos, compositores, intérpretes e produtores culturais, junto a outros nomes que também contribuíram em diversas frentes, foi responsável pelo que viria a ser conhecido como Pessoal do Ceará.
Filho de Rodger e Téti, além do convívio em primeira mão dos acontecimentos, Pedro também recorre a alguém mais distante para fundamentar sua pesquisa: a partir dos conceitos de habitus, capital e campo social, de Pierre Bourdieu, ele relaciona e coloca em perspectiva as histórias desses artistas que marcaram época e se tornaram referências na música cearense.
Recortes temporais
A pesquisa de Pedro dá continuidade ao trabalho iniciado em “Terral dos Sonhos – O Cearense na Música Popular Brasileira” da socióloga Mary Pimentel, primeira pesquisadora sobre o Pessoal do Ceará, que investiga o período de 1964 a 1979. A obra traz uma pesquisa realizada em acervos de jornais, entrevistas e livros, além de entrevistas com artistas, colecionadores e outras pessoas envolvidas com a cultura da época.
Ao final do livro, há análises de letras de algumas canções e a importância da mensagem de cada uma delas naquele contexto cultural. A publicação foi lançada em 1994 e relançada em 2006, acrescida de fotos e de uma discografia atualizada.
O mesmo período é estudado pelo historiador Wagner Castro em “No Tom da Canção Cearense: Do rádio e tv, dos lares e bares na era dos festivais (1963-1979)”. A partir dos Festivais de Música realizados naqueles anos, o autor ressalta a importância desses eventos para o desenvolvimento e a divulgação dos cantores e compositores do Ceará.
Os festivais de canção também são centrais no livro “Canto do Ceará: Os festivais de música do Ceará da década de 1960”. Nele, a jornalista Priscila Lima traça um panorama das edições de 1965 a 1968 do Festival de Música Popular Cearense.
A partir de jornais que circularam no período, entrevistas, depoimentos e pesquisas bibliográficas, a autora também faz uma contextualização nacional com alguns dos mais reconhecidos festivais nacionais.
Já o jornalista Flávio Paiva, em seu livro-CD “Invocado – um jeito brasileiro de ser musical”, contextualiza desde nomes consagrados como Eleazar de Carvalho e Petrúcio Maia a contemporâneos como Daniel Groove e Lorena Nunes a um olhar provocante sobre a música brasileira, refletindo sobre a música brasileira na atemporalidade dos seus intercâmbios afetivos e diversidade criativa.
Artistas e autores
Em “Pérolas do Centauro”, organizado pelo cantor e compositor Pingo de Fortaleza, os personagens e eventos estão compreendidos no período entre 1972 e 2012, abordando artistas, discos, festivais, movimentos e histórias organizadas cronologicamente ao longo dessas quatro décadas.
O livro conta com um rico acervo de fotografias, um documentário homônimo que sintetiza o que é tratado no livro e textos de Gilmar de Carvalho, Nirez, Pedro Rogério, Nelson Augusto, Fábio Marques, Flávio Paiva, Pingo de Fortaleza, Mary Pimentel, Joanice Sampaio, Lira Neto, Wagner Castro, Marcílio Mendonça, Guaracy Rodrigues, Calé Alencar e do próprio Pingo.
Um dos acontecimentos mencionados na obra de Pingo de Fortaleza é a Massafeira Livre, evento realizado por diversos artistas cearenses no Theatro José de Alencar em 1979 e que resultou num álbum duplo lançado no ano seguinte.
Em 2010, o cantor e compositor Ednardo lança o livro “Massafeira 30 anos – Som, Imagem e Movimento”, que traz textos de Calé Alencar, Rosemberg Cariry, Brandão, Mona Gadelha, Fausto Nilo, Gilmar de Carvalho, Dalwton Moura, entre outros. Com fotos de Gentil Barreira e ilustrações de Brandão, o livro foi lançado juntamente com o álbum Massafeira, remasterizado em CD.
História recente
Mais recentemente, em 2025, Ednardo lançou também “Papel, Pele & Pulso”, obra que celebra seus 80 anos de vida e mais de cinco décadas de carreira. O livro traz uma seleção de crônicas, poesias, ilustrações e memórias, todas de sua autoria, alinhadas à narrativa biográfica assinada pelo jornalista e pesquisador musical Luã Diógenes.
Pouco antes, em 2023, Luã lançava seu livro de estreia, “Falando da Vida: As Canções que Teimam Resistindo”. A obra reúne 40 crônicas sobre a história musical do Ceará, homenageando referenciais como Belchior, Fagner, Lauro Maia, a Padaria Espiritual, entre outros.
O próprio lançamento do livro, em 2023, celebrou os 50 anos de lançamento do álbum “Meu corpo, minha embalagem, todo gasto da viagem”, que originou o Pessoal do Ceará e contém a faixa “Falando da Vida”, de Rodger Rogério e Dedé, à qual o título faz referência.
Outro lançamento recente é “Fortaleza Sônica”, de 2025, em que George Frizzo reúne depoimentos sobre a cena do rock em Fortaleza entre as décadas de 1960 e 2000, abarcando meio século de rock na cidade. Baixista da banda de grindcore Siege of Hate (S.O.H.), Frizzo iniciou sua pesquisa em 2012, chegando a realizar mais de 200 entrevistas. O livro destaca a diversidade e o impacto social do rock na cidade.
Escrita e reconhecimento
Dos estudos acadêmicos a recortes históricos e biografias, os livros sobre a música cearense ajudam na construção de uma repertório cultural a ser revisitado com mais frequência e que, ainda assim, ainda não foi de todo contemplado. Cada obra traz sua contribuição e amplia o conhecimento e o reconhecimento sobre a música no Ceará, fazendo essa produção ecoar mais alto e por mais tempo.
- Os títulos ampliam o repertório cultural e reforça a importância de registrar e reconhecer a produção musical do Estado
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Sobre o projeto
O “Cultura em Movimento: Ceará que cria, celebra e contagia” é um projeto do Grupo de Comunicação O POVO com apoio do Governo do Ceará. A proposta é fortalecer o ecossistema cultural e estimular o sentimento de pertencimento do povo cearense. Nesta edição, o projeto divulgou, de forma multifacetada, produções culturais em quatro linguagens artísticas, a saber: audiovisual, arte popular, artes plásticas e música.
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