Entre a linha e a arte: o trabalho das rendeiras no Ceará

As rendas estão presentes no cotidiano e nas paisagens cearenses e representam a cultura e as tradições do Estado

17:38 | 05 de Nov de 2025
Entre a linha e a arte: o trabalho das rendeiras no Ceará

Por entre almofadas, bilros e agulhas, as rendeiras cearenses transformam o cotidiano em arte e história. O saber, normalmente passado de geração em geração, preserva técnicas ancestrais e carrega a memória de um povo, unindo tradição e resistência.

Desde a renda de bilro no Aquiraz, do filé em Jaguaribe, até o labirinto de Aracati, por exemplo, a prática artesanal rodeia o Ceará, que carrega em si técnicas e saberes que, segundo a cronista do O POVO e jornalista especializada em patrimônio cultural, Izabel Rosa Gurgel, “nos antecedem em milênios”.

Essas práticas, para Izabel, “estão na paisagem que nos constitui, muito embora a gente não perceba” e são muito mais que um ofício manual. Elas partem do criar, e ocorrem a partir de “uma afirmação da prática cotidiana e da aplicação rigorosa ao que se faz em meio à desafios”.

Desse modo as peças representam, conforme a jornalista, costumes, histórias, desafios e conquistas das rendeiras. Embora sigam padrões, as peças ainda carregam a assinatura de quem a tece

“É como uma caligrafia. O alfabeto é o mesmo, mas cada letra, cada ponto, tem a ‘assinatura’ de quem fez, ainda que nós, leigos no ofício, não possamos reconhecer”, explica.

 

Renda como fonte para as famílias cearenses

A produção de renda, além de símbolo de identidade cultural, se tornou também uma fonte de sustento. Em casas, feiras e exposições, a venda dessas peças, produzidas por mulheres, atravessou gerações como apoio financeiro.

“Em Canoa Quebrada, no litoral de Aracati, as rendeiras são labirinteiras. Era o ofício das mulheres do lugar, que faziam o labirinto enquanto cuidavam da casa, das crianças, do alimento e da saúde de todos. Se havia seca no mar, período que a pesca não rendia, o labirinto seguia o ano inteiro”, destaca.

Hoje, organizadas em associações e com o apoio, por exemplo, da Central de Artesanato do Ceará (Ceart), da Secretaria de Proteção Social (SPS) e do projeto Renda Gera Renda, da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), mulheres e a renda ganham força no turismo e na economia do Estado, por meio de ações que impulsionam a venda das peças e a capacitação das profissionais.

Renda de bilro de Aquiraz conquista Indicação Geográfica

As rendas de bilro produzidas em Aquiraz receberam o registro de Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP).

O título, divulgado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) em setembro, “atua como um selo de autenticidade, reconhecendo a tradição secular do município e abrindo novas oportunidades de mercado”, de acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), autarquia federal responsável pela concessão Por entre almofadas, bilros e agulhas, as rendeiras cearenses transformam o cotidiano em arte e história. O saber, normalmente passado de geração em geração, preserva técnicas ancestrais e carrega a memória de um povo, unindo tradição e resistência.

Desde a renda de bilro no Aquiraz, do filé em Jaguaribe, até o labirinto de Aracati, por exemplo, a prática artesanal rodeia o Ceará, que carrega em si técnicas e saberes que, segundo a cronista do O POVO e jornalista especializada em patrimônio cultural, Izabel Rosa Gurgel, “nos antecedem em milênios”.

Essas práticas, para Izabel, “estão na paisagem que nos constitui, muito embora a gente não perceba” e são muito mais que um ofício manual. Elas partem do criar, e ocorrem a partir de “uma afirmação da prática cotidiana e da aplicação rigorosa ao que se faz em meio a desafios”.

Com a IG, serão ampliadas as oportunidades de geração de renda e a preservação do saber-fazer artesanal. Além disso, a cidade será projetada no cenário nacional e internacional como destino de relevância cultural e turística do Brasil.

A produção da renda de bilro em Aquiraz é uma tradição consolidada. A prática, conhecida localmente como “renda da terra”, é antiga no município. Ela é reconhecida a partir de espaços como o Centro das Rendeiras da Prainha e o Centro das Rendeiras de Iguape, e da exposição e participação em feiras de diversas cidades dentro e fora do País.

Sobre o projeto

“Cultura em Movimento: Ceará que cria, celebra e contagia” é um projeto do Grupo de Comunicação O POVO com apoio do Governo do Ceará. A proposta é fortalecer o ecossistema cultural e estimular sentimento de pertença do povo cearense. Nesta edição, o projeto passeará, de forma multifacetada, por produções culturais em quatro linguagens artísticas, a saber: audiovisual, arte popular, artes plásticas e música.