Audiovisual cearense em pauta: o que falta para o nascimento da Ceará Filmes?
Projeto prevê a criação de uma empresa pública de audiovisual no Estado. Passo importante para sua implementação, audiência na Alece está agendada para setembro
O bom momento do cinema nacional tem também contribuição cearense. Antes do longa de Walter Salles “Ainda Estou Aqui” receber destaque no Globo de Ouro e Oscar em 2025, “Motel Destino”, de Karim Aïnouz, integrou a seleção competitiva do Festival de Cannes em 2024. Orgulhos para o Brasil e para o Ceará.
No Estado, essa força tem se traduzido em números: a participação do setor no contexto nacional passou de 2,28% em 2010 para 3,12% em 2022. Além disso, executamos com êxito 98,27% (R$ 188,4 milhões) dos recursos previstos da Lei Paulo Gustavo em 2024, evidenciando a demanda por investimento público na área.
O reconhecimento também chegou ao nível federal. Em 2024, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, anunciou a inclusão do audiovisual na iniciativa Nova Indústria Brasil (NIB) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), fortalecendo o setor como estratégico para o País.
Nesse contexto, o Ceará se mobiliza por novas políticas públicas. Atuantes do setor local lançaram a campanha “Ceará Filmes Já!”, articulada pela Associação Cearense de Produtoras de Audiovisual Independente (Ceavi) com apoio de cerca de 40 empresas e produtoras do setor. O movimento busca visibilizar a promessa de criação de uma empresa pública estadual de audiovisual, capaz de ampliar investimentos e consolidar o Estado como polo de produção no Brasil.
A iniciativa, que se concretizada vai representar um marco para o audiovisual cearense, inspira-se em modelos de sucesso como a SPCine (São Paulo), Rio Filmes (Rio de Janeiro) e Bahia Filmes (Bahia) – este último, em fase de implementação.
Seguindo esses passos, a Ceará Filmes tem como proposta oferecer uma base institucional estável para as políticas públicas do setor, o que deve contribuir para a sustentabilidade e a qualificação do audiovisual cearense.
Instante decisivo
Atualmente, a equipe de trabalho aguarda a apresentação do projeto da empresa à Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), em audiência pública marcada para o dia 3 de setembro, às 14h. De acordo com atuantes do setor, esse é um passo importante para a implementação da empresa.
Estarão presentes o líder do governo na Alece, o deputado Guilherme Sampaio; representantes de secretarias estaduais, como Secult, Sefaz e Seplag; a Procuradoria Geral do Estado (PGE), entre outros representantes da sociedade civil organizada. A ideia é apresentar e aprofundar o debate para estruturar uma proposta ainda mais sólida a ser apresentada ao governador Elmano de Freitas e posteriormente aos deputados da Casa Legislativa.
Contexto
Legalmente, a criação da Ceará Filmes está prevista pelo Ceará Filmes – Programa Estadual de Desenvolvimento do Cinema e Audiovisual, instituído pela Lei n.º 17.857/2021. O programa visa fomentar o desenvolvimento da produção audiovisual em conexão com a arte e a cultura digital, promovendo os processos de criação, formação, exibição, distribuição, preservação, pesquisa e intercâmbio.
A Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) criou Grupos de Trabalho (GTs) que, desde abril de 2024, estão debatendo e planejando as estratégias de implantação. Estes GTs, com a participação de representantes da sociedade civil e o consultor Alfredo Manevy, estão realizando pesquisas, como o estudo “Desempenho do Setor Audiovisual Cearense – 2010 a 2022” do Ipece.
Aliadas a um futuro estudo mais aprofundado, essas pesquisas permitirão que as decisões sobre a distribuição de recursos e as estratégias de fomento sejam informadas por dados concretos e pelas necessidades do setor.
A campanha “Ceará Filmes Já” busca assegurar que o Programa seja executado, alertando que a ausência de recursos pode adiar a implementação da Ceará Filmes e gerar crises no setor. Como parte da campanha, uma petição online já recebeu mais de 500 assinaturas e ainda recebe assinaturas.
Para Roger Pires, que atua no desenvolvimento e na produção dos projetos da Nigéria Filmes, não existe momento mais favorável para a criação da empresa.
“O Ceará já provou que tem reconhecido prestígio no cinema, no vídeo, na publicidade. Agora, ele precisa de mais incentivo, mais estrutura. Senão, corre o risco de todo esse desenvolvimento e esses resultados recentes serem só um caso isolado na história”, afirma.
É que a Ceará Filmes busca o fortalecimento dos arranjos criativos e produtivos do setor, como meio para o desenvolvimento econômico e para a sustentabilidade da produção audiovisual cearense na cena nacional e internacional.
“Além do viés artístico, que a Secretaria da Cultura já vem fazendo esforços e tendo resultados, a gente quer somar o viés econômico e de mercado do audiovisual, entendendo ele como uma indústria potente, de geração de desenvolvimento, riqueza, emprego e renda”, ressalta Roger.
“A gente quer ter um plano de negócios, um plano setorial do audiovisual de curto, médio e longo prazo e que alcance resultados comerciais, artísticos e de relevância do desenvolvimento do que a gente chama de indústria do audiovisual”, frisa.
Roteirista e diretora indígena, Virgínia de Albuquerque Deolics está à frente da Reicamfilmes. Ela trabalha “também pela descentralização do cinema na Capital”. Por meio de sua produtora, ela contribui para a “Ceará Filmes Já!” na articulação, na produção de imagens e produção da campanha.
“Desde o início (da atuação no setor, em 2016) vejo carência de uma empresa cearense para o audiovisual. Essa ação é importante para o Estado, para a cultura cearense”, afirma. Enquanto realizadora, ela avalia que a criação da empresa vai viabilizar mais investimento e produções, com retorno para a economia regional.
Revolução à vista
A criação da empresa pública visa impulsionar o setor audiovisual de diversas maneiras. De acordo com seus defensores, a proposta viabiliza o seguinte:
Garantia de orçamento e investimento: um dos objetivos primordiais da proposta é garantir que o Governo do Estado disponha de recursos para o projeto, assegurando a execução do orçamento previsto para o desenvolvimento do cinema e audiovisual, o que estimulará toda a cadeia produtiva.
Fomento abrangente e estruturado: a Ceará Filmes promoverá políticas públicas que abrangem sete eixos: Produção, Distribuição, Exibição, Preservação, Formação, Rede Institucional e Legislação. Isso inclui o fomento à criação, formação, exibição, distribuição, preservação, pesquisa e intercâmbio na arte e cultura digital.
Desenvolvimento econômico e geração de empregos: a empresa visa promover o desenvolvimento econômico, gerar novos postos de trabalho e aumentar a contribuição do setor para o Produto Interno Bruto (PIB) da cultura, elevando a presença do Ceará no cenário audiovisual nacional e internacional.
Transparência e participação da sociedade civil: a construção da Ceará Filmes é um processo de “construção social e coletiva”. O “Seminário Ceará Filmes”, realizado em novembro de 2024, exemplifica este compromisso. O objetivo foi discutir com a sociedade civil as bases e diretrizes para a entidade, com mesas redondas e sessões de escuta que abordaram o desenvolvimento econômico, artístico, acesso, inovação, integração regional e internacionalização.
Sobre o projeto
O “Cultura em Movimento: Ceará que cria, celebra e contagia” é um projeto do Grupo de Comunicação O POVO com apoio do Governo do Ceará. A proposta é fortalecer o ecossistema cultural e estimular sentimento de pertença do povo cearense. Nesta edição, o projeto passeará, de forma multifacetada, por produções culturais em quatro linguagens artísticas, a saber: audiovisual, arte popular, artes plásticas e música.
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