A potência do cinema cearense
Com produções premiadas, formações de excelência e novas políticas públicas, o Ceará se destaca como polo audiovisual no País
“Eu acho que o campo audiovisual do Ceará nunca esteve num momento tão importante, tão potente”. A fala é da diretora da Escola Porto Iracema das Artes e diretora de formação do Instituto Dragão do Mar, Bete Jaguaribe.
Um exemplo dessa potência é o diretor de cinema, roteirista e artista visual cearense Karim Aïnouz, conhecido por grandes obras como os filmes “Madame Satã”, “O Céu de Suely”, “Praia do Futuro” e “A Vida Invisível”. Na lista dos 50 melhores filmes brasileiros do século XXI, divulgada pelo GLOBO no início deste mês, Karim Aïnouz é creditado em seis produções. Também presente na lista está o filme “Inferninho”, desenvolvido a partir do laboratório de cinema do Porto Iracema das Artes.
Para a produtora e cineasta Bárbara Cariry, uma das características mais marcantes do cinema cearense é a diversidade. Com gêneros que percorrem caminhos próprios e atendem a nichos específicos de mercado, ela defende que a produção cearense tem se destacado no cenário nacional.
“Temos uma produção que abrange vários gêneros e linguagens: humor, espiritismo, aventura, cangaço, drama, e também os filmes de arte, estes últimos com grande repercussão e importantes prêmios em festivais nacionais e internacionais, além de uma valiosa fortuna crítica. Podemos afirmar que o Ceará é, hoje, um dos mais importantes polos de produção audiovisual do Brasil”, garante.
Qualificação e estrutura: a base do cinema cearense
Atualmente, o Ceará conta com duas graduações em Cinema, na Universidade de Fortaleza (Unifor) e na Universidade Federal do Ceará (UFC). Além disso, a Universidade Federal do Cariri passa por movimentações para a criação do primeiro curso de licenciatura em Cinema. O Estado também conta com o laboratório de desenvolvimento de roteiro do Porto Iracema das Artes, reconhecido nacionalmente.
De acordo com Bete, essa configuração formativa dá impulso e qualidade não só para o fazer cinema, mas para o pensar sobre cinema, fator que diferencia o Ceará de todo o Norte e Nordeste.
“Dos anos 2000 até aqui, o Ceará vem construindo uma experiência de formação audiovisual que é única no Nordeste. Na década de 90, teve o Instituto Dragão do Mar de Arte Indústria Audiovisual, que formou uma geração de realizadores de cinema. E na década de 2000 as universidades começaram a criar os cursos. Dali se formaram artistas, como o Coletivo Alumbramento, de onde saiu, por exemplo, o Guto Parente, o Pedro Diógenes, essa turma, inclusive, que dirigiu o Inferninho. Por exemplo, o Armando Praça, o último filme que ele lançou foi Fortaleza Hotel, com roteiro desenvolvido dentro do laboratório de cinema do Porto Iracema das Artes. Motel Destino foi um filme que representou o Brasil ano passado no Festival de Cannes, e foi todo feito com gente da Porto Iracema das Artes”, descreve.
Nesse cenário, Bete também destaca o valor do festival Cine Ceará e dos Cinemas Dragão e São Luís, espaços de excelência para a exibição de filmes brasileiros que democratizam o acesso à arte.
A promessa da Ceará Filmes
Lançada pelo Programa Estadual de Desenvolvimento Audiovisual, a Empresa Pública de Audiovisual do Estado Ceará Filmes é uma iniciativa ansiosamente aguardada pela cena cearense.
“Essa empresa tratará de políticas para o desenvolvimento tanto do cinema comercial quanto do cinema cultural, de arte e experimental, além dos games e das convergências digitais. Estão previstos acordos internacionais com outros países produtores de cinema, baseados no tripé: formação, coprodução e difusão. Estamos animados com essa possibilidade. Será algo positivo para o Ceará, para a região Nordeste e para o Brasil”, aponta Bárbara.