Música cearense e internacional

Espalhados pelo mundo, artistas cearenses vêm conquistando públicos e consolidando suas carreiras em diferentes países e culturas

17:22 | 12 de Nov de 2025
Música cearense e internacional

Com trajetórias que se expandem do interior e da capital do Ceará para o mundo, nomes como Artur Menezes, Tiago Araripe, Lorena Nunes e Paulo Feitosa trilham, cada um à sua maneira, caminhos para expandir horizontes.

 

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Nascido em Fortaleza, o cantor e guitarrista Artur Menezes mora nos Estados Unidos há dez anos. Desde muito antes disso, ainda criança, já tocava blues. Entre o desconforto das primeiras pestanas no violão e o reconhecimento dos prêmios, tocar nos principais festivais do mundo, turnês com nomes como Buddy Guy e Eric Gales e integrar o corpo docente do Musicians Institute, em Hollywood, o músico teve sua trajetória tão influenciada pelo blues que foi até o berço do estilo na busca por aprimorar seu som.

Porém, nada disso aconteceu de repente. “O que me levou a mudar de país, além da paixão pelo blues, foi eu estar começando a me repetir bastante no Brasil. Tocando nos mesmos festivais pela terceira, quarta vez, sempre no mesmo circuito. No estilo que eu fazia, não tinha muito mais para onde crescer”, recorda. Enquanto ainda morava em Fortaleza, Artur foi para Chicago pela primeira vez em 2006, pela segunda vez em 2007 e, em 2011, enquanto morava em São Paulo, visitou Chicago pela terceira vez.

“Esse bate e volta é porque eu ainda estava muito incerto. Para mim, eu estava indo me aprimorar no blues. E sempre ia para Chicago porque tenho esse carinho pela cidade, que é a Meca do blues elétrico. Quando o blues saiu do campo para as cidades grandes com eletricidade, incorporou amplificador, guitarra elétrica, essas coisas. Foi nesse blues que acabei me aprimorando mais, embora também goste e toque o blues do Delta do Mississippi, que é mais acústico. Quando voltei de Chicago em 2011, já vim com aquela pulga atrás da orelha de ‘eu tenho que me mudar de vez pros Estados Unidos’”, conta.

A mudança definitiva veio em 2016, num momento em que já tinha reconhecimento e trabalhos no exterior. Hoje radicado em Los Angeles, o guitarrista é visto pelo público americano como um elo entre o blues norte-americano e o da América do Sul.

“Eu acredito que a arte de todo mundo é relacionada com o ambiente em que vive. Estar aqui, onde se faz e onde nasceu o tipo de música que eu faço, influencia meu som”. Para quem também deseja seguir carreira musical em outro país, Artur recomenda possuir três coisas: “sangue no olho, talento e ética”.

Filho da cantora Lúcia Menezes, seu vínculo musical e afetivo com o Ceará e o Brasil permanece forte. “Vou ao Brasil pelo menos uma vez por ano e faço uma turnê. Mantenho contato com os artistas daí e, sempre que possível, a gente se encontra, bate papo, tira um som”, conta o músico, que tem aparecido no lineup de festivais como Jazz e Blues de Guaramiranga, Rio das Ostras Jazz, Blues e Best of Blues and Rock, entre outros, e irá se apresentar no Lollapalooza Brasil 2026, em março do ano que vem.

Do Crato a Portugal

O cantor e compositor Tiago Araripe, nascido no Crato, também buscou fora do País uma nova etapa de sua trajetória musical. Hoje com 74 anos de idade, vive desde 2018 em Bombarral, pequena vila agrícola no Centro-Oeste de Portugal. A mudança foi planejada por Tiago e sua parceira, Ana Ruth, ao longo de dois anos.

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“Eu já estava aposentado e tínhamos uma ideia em comum: já que iríamos atravessar o Oceano Atlântico, que fosse para ter outro tipo de vida. Para nós, isso significava morar em uma aldeia ou uma vila pequena, onde viveríamos de forma minimalista, em maior contato com a natureza e, no entanto, com internet de alta velocidade para manter janelas abertas ao mundo”.

Mundo este que Tiago viveu com intensidade por décadas entre as metrópoles Recife, São Paulo e Fortaleza. Após sair do Crato para cursar Arquitetura em Recife, a movimentação na cena musical pernambucana o fez largar a faculdade e se mudar para São Paulo. Lá, durante a efervescência criativa dos anos 1970, foi membro da banda Papa Poluição e colaborou com nomes como Tom Zé e Itamar Assumpção.

A experimentação e a mistura entre o rock e os ritmos nordestinos são marcas de sua carreira, algo evidente em seu álbum de estreia “Cabelos de Sansão”, lançado em 1982 pelo selo Lira Paulistana e que conta com a participação de 36 músicos, entre eles nomes como Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Vânia Bastos.

Após o nascimento de suas filhas e de passar a atuar no ramo da publicidade, Tiago passou anos sem gravar nem fazer shows, até que se mudou para Fortaleza em 1995. “Foi em Fortaleza que, em 2001, recebi uma ligação surpreendente de Zeca Baleiro. Ele era admirador do ‘Cabelos de Sansão’ e queria me conhecer pessoalmente. Nos tornamos amigos e parceiros musicais. Em seguida, recebi dele o convite para relançar ‘Cabelos de Sansão’ em CD”, lembra.

As parcerias com Zeca não pararam por aí. Ele assina a produção do álbum seguinte de Tiago, “Baião de nós”, de 2016. E canta com ele na faixa “Você é um Oásis”, do álbum “Terramarear” (2021), gravado já após a mudança de Tiago para Portugal, e que reúne faixas gravadas com músicos de diversos países.

“O avanço da tecnologia democratizou o acesso à produção musical, primeiro por meio de pequenos estúdios. Depois, tornando possível a colaboração entre artistas a partir de suas próprias casas”, avalia. “Aprendi a gravar minha voz em casa, editar meus vídeos e divulgar minha música”.

Em meio a essa aposentadoria bucólica, o artista segue produtivo, atualizado e inspirado. “Sinto que é o lado interiorano da minha personalidade falando mais forte, aos 74 anos de vida. Mas sempre me vejo compondo e pensando formas de tirar as composições do papel. Ou seja, não me dou o direito de desistir”, conclui Tiago, que desde que chegou em Portugal já lançou 14 singles e 2 álbuns, sendo um deles ao vivo, além de shows em Fortaleza, no Cariri e em Lisboa e parcerias com músicos de diversas partes do mundo.

O compositor pondera, no entanto, que ser músico independente no exterior exige planejamento e consciência da realidade local. “O mercado é competitivo. É importante que cada um busque o próprio diferencial estético e trace um plano”, aconselha.

 

“Eu vou e volto pra ti”

A cantora Lorena Nunes mantém sua presença frequente em palcos internacionais enquanto permanece em Fortaleza. Sua trajetória de internacionalização começou em 2014, participando do Porto Musical, em Recife, feira de música que integra a rede da Worldwide Music Expo (WOMEX), maior feira de música da Europa.

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“Foi ali que comecei a entender esse processo de como se constrói uma carreira internacional. É realmente uma construção de mercado. Os profissionais mais experientes sempre reforçam que esse processo deve acontecer quando o artista já tem um certo reconhecimento no seu território”, explica Lorena, que tem na bagagem dois álbuns lançados, shows em diversas cidades e festivais do Brasil e apresentações internacionais em Cabo Verde, Espanha, Itália, Portugal, França, Bélgica, México e Colômbia.

Desde então, Lorena passou a circular em feiras e festivais pelo mundo, apresentando showcases e firmando conexões com curadores e programadores. Para ela, pensar em internacionalização é também pensar em estrutura. “Não se trata apenas de fazer um show fora e voltar. É uma construção de mercado e de público. Ir, ser conhecido, voltar, fortalecer esse público e ampliar, da mesma forma que se constrói o mercado interno”.

A cantora reforça que está sempre atenta a oportunidades como editais, convênios e mecanismos de fomento que viabilizem a circulação internacional. Por meio de programas como o Ceará Criativo e o Circulart, voltados à difusão da música cearense no exterior, ela já se apresentou, só neste ano, no México e na Colômbia.

 

Atualizar, permanecer e desenvolver

O diretor do Ceará Criativo e da Quitanda Soluções Criativas, Paulo Feitosa, observa que o atual momento é especialmente favorável à projeção da produção cultural brasileira e cearense no exterior. Segundo ele, o processo de internacionalização cumpre um papel simbólico e econômico ao atualizar a imagem do Brasil para fora.

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“A gente ainda tem, no imaginário global, um Brasil muito estereotipado. Nos últimos anos, estamos tendo a possibilidade de mostrar para o mundo a produção cultural brasileira contemporânea e o quanto ela é diversa, múltipla e cheia de potências”, conta.

Paulo ressalta que a permanência é um dos grandes desafios, e também o principal objetivo. “A gente precisa sair desse cenário de participações em eventos pontuais e criar estruturas e políticas que gerem permanência. Na Quitanda, há 12 anos, estamos desenvolvendo projetos e programas de internacionalização pensando nessa permanência, para que os artistas retornem aos lugares para onde vão pela primeira vez e consigam chegar de forma fluida e fácil no público e no cotidiano desses países”, relata.

Essa presença constante, explica, alimenta um ciclo: quanto mais os artistas cearenses circulam, mais desejo e consumo cultural ele desperta, o que por sua vez estimula e amplia tanto o campo econômico quanto o estético, criando mais oportunidades de trabalho para os artistas. “É conseguir manter, por meio de políticas públicas e estratégias público-privadas, essa circulação constante para que o mundo possa, de fato, ter um olhar permanente sobre nossa produção cultural”, conclui.

 

“Se você vier me perguntar por onde andei”

Seja em busca de novas sonoridades, pela vontade de recomeçar ou pela construção paciente de uma carreira ou cena global, o Ceará se projeta para além das fronteiras nacionais, sem perder o vínculo com suas origens. De diferentes formas, Artur Menezes, Tiago Araripe, Lorena Nunes e Paulo Feitosa conectam o Ceará e o mundo, mostrando que internacionalizar nossa música não se trata apenas de partir, mas também de voltar, de permanecer e de seguir em movimento.

Sobre o projeto

“Cultura em Movimento: Ceará que cria, celebra e contagia” é um projeto do Grupo de Comunicação O POVO com apoio do Governo do Ceará. A proposta é fortalecer o ecossistema cultural e estimular o sentimento de pertencimento do povo cearense. Nesta edição, o projeto divulgou, de forma multifacetada, produções culturais em quatro linguagens artísticas, a saber: audiovisual, arte popular, artes plásticas e música.

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